No último dia três, a Embraer anunciou que pode voltar a construir aviões turboélices para diminuir os impactos da alta nos preços dos combustíveis aeronáuticos. O projeto (que ainda nem é projeto, de verdade) é utilizar a plataforma dos jatos ERJ-145 para montar uma aeronave de 50 a 60 lugares, com motores Rolls Royce ainda em desenvolvimento. A economia de combustível chegaria a 22%. A idéia é muito boa, já que, atualmente, os turboélices que têm tido mais destaque no mercado de aviação são os ATR’s, modelos 42 e 72.
Essa intenção nos faz lembrar de um antigo projeto. Os dois turboélices mais famosos da Embraer são o EMB–110 Bandeirante e o EMB–120 Brasília. Um terceiro, contudo, acabou fracassando. Trata-se do modelo CBA-123 Vector, também conhecido como EMB–123.
A aeronave tinha uma fuselagem parecida com a do Brasília. O nome deriva da sigla para Cooperação Brasil-Argentina. Era um bimotor de uso regional, com capacidade para 19 passageiros e asas enflechadas, pensado em 1987. A característica mais marcante eram os dois motores traseiros, que acionavam hélices voltadas para trás.
Para deixar as coisas um pouco mais claras, o comprimento da máquina era de 17,18 metros, com uma envergadura de 17,57 metros e altura de 6,16. Para decolar, necessitava de uma pista mínima de 1.010 metros, o mesmo que um Brasília. O alcance era de 1.185 quilômetros, a uma velocidade máxima de cruzeiro de 667 km/h. A altitude máxima alcançada pelo CBA-123 Vector era de 12.459m.
Agora, a história do fracasso desse avião é o símbolo de como a indústria da aviação na América Latina era mambembe até uns 20 anos atrás. Tanto a FMA (Fábrica Militar de Aviones) e a Embraer, as duas empresas responsáveis pelo desenvolvimento dos protótipos, eram estatais na época. Ambas dependiam, portanto, de investimentos do governo. De um lado, Carlos Menen. Do outro, Fernando Collor de Mello. Não tinha como dar certo.
O primeiro Vector levantou vôo em 18 de julho de 1990 e apenas outros dois seriam construídos. Juntar uma fábrica com experiência em aviação militar e outra especialista em aviação civil, com possibilidade de levar a nova aeronave para outros países, não era tão fácil. Sobraram falhas de orçamento no projeto, mas o que detonou tudo de vez foi o interesse político. A ambição era colocar a aviônica digital mais moderna disponível na época. Mas não teve jeito. A partir de 1992, começou o processo de privatização da Embraer, enquanto que, em 1995, a FMA foi adquirida pela gigante Lockheed Martin. E o Vector, cujo projeto teve um custo total de 300 milhões de dólares, ficou só na fotografia.
PS: No mês de agosto e no ínício de setembro a bruxa esteve solta na aviação. Para ser breve: King Air vara a pista em Congonhas, 737 da American Airlines faz pouso de emergência em Los Angeles, Carioquinha bate em muro no Campo de Marte, MD-82 da Spanair se acidente em Madrid, ATR-72 pega fogo em Munique, acidente no Quirguistão, 737 da Ryanair faz pouso forçado na França…